Há uns dias falava-vos sobre os efeitos negativos de usar pressão para obrigar a criança a comer determinado alimento. Disse-vos ainda que há estratégias positivas, validadas pela literatura, para incentivar a criança a comer esse alimento.
E referia-me à sopa por saber que é causadora de grandes discussões à mesa.
Mas antes de pensarmos em estratégias para incentivar o consumo de um alimento é muito muito importante compreender se respeitamos as necessidades dos nossos filhos quando queremos que comam determinado alimento, em determinado momento.
E que necessidades são essas?
Deixo-vos alguns exemplos:
1. Dá o exemplo, comendo sopa?
“Porque me pedem para comer sopa quando não o fazem?” Sermos coerentes e agirmos como modelo é a melhor estratégia para incentivar os nossos filhos a comer determinado alimento. Eles vão sentir-se integrados nas práticas familiares e esse é o principal motivo para replicarem um comportamento. Mas atenção: por vezes o “contágio” pode demorar um pouquinho.
2. Oferece-a quando tem fome e disposição para comer?
Estaremos nós a pedir demasiado do volume do estômago dos nossos filhos ao querer que comam duas conchas de sopa, prato e sobremesa? A resposta é muito variável em função da idade, mas posso dizer-vos que a maioria das vezes sim. E há que olhar às porções consumidas durante o dia para entender até que ponto a recusa alimentar ao jantar se deve ao excesso de alimentos oferecidos. Há que olhar também à hora a que se faz a refeição, para perceber se o sono pode estar a interferir.
3. Varia a receita de sopa e a oferta de vegetais?
Variar a receita de sopa, combinando diferentes vegetais e texturas, promove a sua aceitação. E oferecer sopa uns dias e noutros um pouquinho mais de vegetais no prato é essencial para ir ao encontro dos interesses dos nossos filhos. Em dias quentes ou situações de doença, por exemplo, podem preferir alimentos mais frescos e é até preferível que assim seja.
4. Convida a que coma sopa pela própria mão?
Eu sei que é estranho dizer-vos que temos que deixar que comam pela própria mão um alimento que recusam comer, mas dar-lhes essa escolha é muitas vezes a faísca que faltava para quererem comer o alimento. Sinto que as crianças se desapaixonam pela sopa na fase em que começam a ter autonomia para comer alimentos do segundo prato pela própria mão. Não deixamos que façam o mesmo com a sopa porque, por ser mais líquida, se vão sujar. Ou seja: a sopa faz com que se sintam diminuídos, porque é o adulto a alimentá-los. Importa aqui alterar a receita, para que fique mais densa, e deixar que a comam em função do seu próprio interesse.
Não esqueçam que não queremos só incentivar criança a comer determinado alimento, mas também e muito importante: a gostar de comer sopa.
E quando já temos uma aversão ao alimento por toda a pressão a ele associada?
Vamos tentar quebrar esta aversão, nomeadamente ao: oferecer uma receita diferente do habitual num momento em que têm fome (por exemplo, quando chegam a casa esfomeados ao final da tarde) e confiando que a vão comer ao a dispormos à sua frente, enquanto a comermos também . Podem precisar de vários convites até termos aceitação.
Quem vai experimentar?
Se precisam de ajuda para ajustar receitas e porções, contem comigo.
Lisa Afonso
Nutricionista Infantil | Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil
Curso de Introdução de Alimentos & Consulta de Nutrição On-line ou Presencial (Porto)