Este é um tema que os pais muito levantam nesta época do ano: que cuidados alimentares ter, para garantir resistência às viroses do outono e inverno? A criança tem ou não vantagem em fazer um suplemento alimentar?
Um sistema imunitário reforçado é a base para uma boa saúde. A resposta do sistema imunitário a um mesmo agressor é variável de indivíduo para indivíduo, em função de diversos fatores como o histórico de infeções, a vacinação, o género e a faixa etária. O estilo de vida também influencia, sendo a alimentação um dos seus pilares.
O sistema imunitário é como uma orquestra, cuja sinfonia resulta da harmonia de diversos instrumentos. E a alimentação atua aos seus mais diversos níveis.
A alimentação providencia:
- A energia necessária ao funcionamento do sistema imunitário.
- Os blocos de construção que suportam o elevado nível de biossíntese e a replicação celular necessária, durante uma resposta do sistema imunitário.
- O substrato para a produção de alguns metabolitos imunoativos.
- Elementos que regulam o metabolismo das células do sistema imunitário.
- Agentes com propriedade antimicrobianas.
- Compostos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que conferem proteção contra o stress oxidativo e inflamatório.
- Substratos para o desenvolvimento e manutenção do microbioma intestinal, que por sua vez modula o sistema imunitário.
Ou seja, são muitos elementos que, combinados, conferem proteção.
Um bom estado nutricional garante a energia necessária para a resposta do sistema imunitário a um agressor. Um adequado aporte de macronutrientes, com especial enfoque na proteína e lípidos, garante elementos necessários a essa resposta. Por sua vez, alguns micronutrientes, como a vitamina A, C e D, o Zinco, Cobre e Ferro são hoje também reconhecidos como elementos importantes para este reforço.
Destacamos alguns destes elementos protetores, cuja evidência da sua ação no sistema imunitário é mais robusta:
Proteína
A deficiência de proteína pode conduzir a alterações da barreira da pele e das mucosas. Pode por isso contribuir para distúrbios gastrointestinais, perda do tecido linfóide e alterações do microbioma intestinal. Assim, a suscetibilidade aos organismos patogénicos está aumentada quando há défice proteico. De destacar a arginina, como elemento essencial ao funcionamento do sistema cardiovascular e imunitário. A suplementação entérica de arginina em contexto hospitalar já demonstrou efeitos positivos na resposta do sistema imunitário.
Lípidos
A ingestão adequada de lípidos protetores confere reforço do sistema imunitário. As gorduras de omega-3, com destaque para o EPA e o DHA, atuam como moduladores do sistema imunitário por inibirem a resposta inflamatória.
Vitamina C
A vitamina C suporta a atividade de várias células do sistema imunitário (ex. dos neutrófilos e macrófagos) e ajuda a inibir o stress oxidativo e a inflamação. Pessoas com deficiência de Vitamina C são mais suscetíveis a infecções respiratórias severas e uma meta-análise indicou uma redução significativa do risco de pneumonia com suplementação de vitamina C, particularmente em indivíduos com baixa ingestão da mesma. Outra meta-análise indicou que a suplementação com Vitamina C também parece reduzir a duração e severidade das infecções do trato respiratório superior, como a gripe, especialmente em indivíduos expostos a exercício físico severo.
Vitamina D
A vitamina D tem múltiplas ações no sistema imunitário. Por exemplo, promove a produção de proteínas antimicrobianas e é essencial para a atuação dos macrófagos. Uma meta-análise indicou que a suplementação regular de Vitamina D reduz a incidência de infecções do trato respiratório, especialmente em indivíduos com valores séricos mais baixos. De referir que até aos 12 meses está indicado o suplemento de Vitamina D, independentemente da ingestão, exposição solar e estado nutricional do bebé. A partir desta idade, é necessário aferir se a ingestão da mesma através dos alimentos e exposição solar é suficiente em, caso não seja e haja incidência frequente de infecções respiratórias, ponderar a suplementação.
Zinco
O Zinco suporta a ação de várias células do sistema imunitário, ajuda a controlar o stress oxidativo e a inflamação e tem ações antivirais. A suplementação melhora alguns marcadores do sistema imunitário, especialmente em indivíduos com mais idade e com ingestões baixas e uma meta-análise indicou que reduz a incidência de infeções do trato respiratório.
As necessidades de todos estes nutrientes são variáveis nas diversas fases da vida e em função das características individuais. Em casos de dietas específicas, com controlo do aporte de carne, pescado e ovo, por exemplo, são aconselhados cuidados especiais.
Figura 1. Representação visual de alguns alimentos com potencial para o reforço do sistema imunitário.
Assim, a alimentação que reforça o sistema imunitário será variada em vegetais, fruta, frutos secos, sementes e cereais integrais, não esquecendo o consumo de carne, pescado e ovo. A figura representa alguns destes alimentos, com potencial para o reforço do sistema imunitário. A fruta e vegetais desempenham um papel essencial como escudo de imunidade.
De reforçar ainda a importância de promover uma boa alimentação ao longo de todo ano. Uma grande orquestra não toca em harmonia apenas com ensaios de inverno!
Conclusão
Os estudos têm vindo a indicar a mais-valia da reposição de alguns micronutrientes, quando em défice, para o reforço do sistema imunitário.
Na Consulta de Nutrição é avaliada a ingestão alimentar e a adequação nutricional e são propostas melhorias. Na impossibilidade de conseguir adequado aporte através dos alimentos (e exposição solar, no caso da Vitamina D), a suplementação pode trazer benefícios.
É importante referir que caso haja uma alimentação completa, variada e equilibrada para aquela criança, o suplemento pode não trazer vantagem e contribuir até para o risco de excesso do aporte dos nutrientes em questão.