A diversificação alimentar é uma viagem repleta de oportunidades para moldar o apetite e as competências alimentares do bebé. E um roteiro que deve fazer parte desta viagem é o roteiro da evolução nas texturas dos alimentos.
A progressão na diversificação alimentar deve ser sensível ao desenvolvimento do bebé, que é único, mas por outro lado depende dos desafios apresentados pelos cuidadores. E sabemos hoje que o roteiro apresentado pelos pais no que toca à textura dos alimentos é determinante para a sua aceitação.
A mastigação é uma combinação complexa de movimentos dos lábios, da língua e mandíbula, que pode levar anos a desenvolver-se totalmente. Esse desenvolvimento necessita de treino muscular, que acontece ao estimular o bebé com alimentos mais densos do que papas e purés. Aos 6-7 meses já esperamos que o bebé consiga lidar com alimentos grumosos, ao realizar movimentos mais complexos com a língua. É a partir desta idade que as famílias devem começar a usar mais o garfo e o esmagador do que a varinha mágica, para preparar as refeições do bebé. Depois disto vão tornando a textura mais complexa, na medida da sua aceitação: ou seja, este progride de papas e purés para alimentos levemente esmagados, para alimentos grosseiramente esmagados, para alimentos picados e desfiados e, por último, prontos a comer à mão.
Ou seja, na viagem da progressão das texturas existem várias ‘paragens’ entre as papas e purés e os alimentos prontos a comer à mão, que infelizmente os profissionais de saúde exploram muito pouco nas suas recomendações. Por isso muitas vezes as famílias mantêm as papas e purés por demasiado tempo e também porque têm receio do engasgamento, o que é totalmente compreensível e até desejável para segurança do bebé. Importa assim informar corretamente as famílias e dar-lhes conhecimento sobre as consistências a oferecer, sobre os cuidados a ter para reduzir o risco de engasgamento e sobre o que é o reflexo de vómito. Há que guiá-las no seu processo, que é único, com confiança.
Importa ainda que esta viagem se faça no tempo certo. Estudos longitudinais indicam que existe uma janela de oportunidade para a aceitação de texturas mais complexas: a partir dos 9-10 meses existe uma maior probabilidade de rejeição das mesmas e uma associação com dificuldades alimentares futuras.
Lisa Afonso
Nutricionista Infantil | Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil