Há já uns anos, num dia corrido de sessões de educação alimentar numa escola EB23, decidi almoçar no local de eleição para estes dias: a cantina da escola. Era a primeira vez que ali estava e queria conhecer melhor a oferta alimentar daqueles alunos. Pergunto-me quantos de nós, que falamos sobre alimentação escolar, almoçam ou já almoçaram em cantinas de escolas. A meu ver as ementas, directrizes, recomendações e cadernos de encargos sem avaliação de terreno (incluindo avaliação sensorial) são representação de apenas parte da realidade.
A ementa daquele dia era esparguete à bolonhesa, o que me deixou animada: um dos meus pratos preferidos. Contudo, a expectativa foi logo quebrada assim que o prato me foi entregue. A minha bolonhesa vinha ensopada em água e estava fria. Foi impossível comer sequer metade da quantidade que me foi servida e acreditem: não sou de deixar bolonhesa no prato.
Um aparte: Seria óptimo que na linha de empratamento as crianças pudessem opinar sobre a quantidade servida e as funcionárias pudessem guiar esse processo. Reparem que é variável a quantidade que comemos, em função de variados factores, como actividade física diária, sexo, preferências, etc. A escola deve dar orientação, mas penso que cabe aos alunos a palavra final. Este é o meu modo de ver o assunto. Talvez assim, algum do desperdício alimentar poderia compensar os alunos que nesse dia terminaram o almoço com fome.
Mas a história não termina aqui.
Ora qual não é o meu espanto quando um ‘adulto’ me toca nas costas e diz em voz alta:
“É para comer tudo menina!”.
Esta escola tinha um grupo de professores a acompanhar os almoços (prática rara e só por isto estão de parabéns!) e eu, por engano, fui alvo do seu controlo. A professora ficou muito incomodada quando compreendeu que eu não era aluna e eu tive o gosto de lhe explicar o que sentia naquele momento. Estes 2 professores estavam a acompanhar aquele almoço há 1 hora e ainda não tinham percebido como estavam a ser servidas aquelas refeições. Porquê? Porque não as comeram nem iam comer e por desconhecimento dos critérios de qualidade mínimos do serviço de refeições naquela cantina.
A escola precisa de ter alguns dos seus elementos capazes de garantir que a cantina serve bem.
O que quero dizer com ‘capazes’:
- Com tempo do seu horário dedicado exclusivamente a esta tarefa.
- Formados por profissionais da área, de modo a compreenderem ‘o quê’ e ‘como’ avaliar.
- Que compreendam o papel dos diferentes intervenientes e que saibam a quem reportar o quê.
- Que almocem na cantina, compreendendo assim a qualidade do que está a ser servido.
Já acompanhei almoços escolares das mais diversas faixas etárias e, até hoje, vi mais ‘polícias alimentares’, de apito ou cartão vermelho na mão do que ‘orientadores alimentares’. É a figura de orientador que tem que ser criada. É preciso que nos sentemos lado a lado com os alunos para compreender exatamente o que lhes está a ser servido e as dificuldades que enfrentam.
E em casa, quantas vezes não fazemos nós o papel de polícias alimentares?