Temos hoje ainda estudos insuficientes para desenhar recomendações robustas quanto à alimentação complementar do bebé prematuro.
Como para qualquer bebé, sabemos que é importante que exista maturidade postural e de coordenação. Para o bebé prematuro, isto vai ocorrer mais tarde quando comparamos com bebé de termo. É importante reconhecer o conceito de idade cronológica (os meses contados a partir do nascimento) e de idade corrigida (os meses contados a partir das 40 semanas). Ora se dizemos que o bebé de termo pode começar a comer entre os 4 e os 6 meses, o bebé pré-termo pode iniciar entre os 5 e os 8 meses de idade cronológica. Neste caso o limite mínimo seriam os 3 meses de idade corrigida, para garantir que as competências necessárias à ingestão de alimentos foram adquiridas.
A introdução de alimentos antes desta fase pode aumentar o risco de alergia alimentar, de anemia e contribuir para um ganho de peso demasiado rápido.
Assim sendo, podemos recomendar a introdução no mesmo intervalo do bebé de termo, mas tendo em consideração a idade corrigida:
- 4 meses de idade corrigida (17ª semana de vida após data prevista de parto) como limite mínimo
- 6,5 meses (26ª semana de vida após data prevista de parto) como limite máximo
Neste intervalo temporal é importante atender aos sinais de prontidão que o bebé demonstra para comer. Pode saber mais sobre estes sinais neste artigo. No caso do bebé prematuro queremos garantir uma boa evolução de peso, evitando o rápido ganho de peso (cruzamento de dois percentis), principalmente no primeiro ano de vida, que hoje sabemos poder representar um maior risco do bebé prematuro ou que nasce com baixo peso desenvolver obesidade futura.
Os bebés prematuros em aleitamento materno podem necessitar de suplemento de ferro até se estabelecerem boas fontes de ferro-heme na alimentação do bebé.
É ainda importante referir que os bebés prematuros podem ter mais dificuldade na transição das texturas, especialmente os que estiveram entubados ou foram alimentados por sonda por longos períodos de tempo. Há salientar que o “reflexo de protusão da língua” está presente, em algumas destas crianças, até mais tarde, sem que seja patológico, mas que pode ser sentido inicialmente como um obstáculo adicional.
Habitualmente, a introdução deve ser progressiva, aumentando as texturas em função dos sinais de aceitação e prontidão do bebé. Ofereça a partir dos 6 meses de idade corrigida a fruta menos esmagada com o garfo ou o puré de vegetais com alguma textura. Depois evolua para os “pratinhos” (ex. açorda, bolonhesa, etc.) e, só depois de bem aceites estas texturas à colher, ofereça alimentos para o bebé comer com a mão.
No caso de prematuridade, o bebé pode apresentar uma atitude mais defensiva em relação a alguns alimentos e os pais podem também sentir-se menos confiantes com a exposição a alguns desafios que possam parecer comprometer a boa evolução ponderal do bebé. É que quando introduzimos novas texturas na alimentação do bebé ele começa por estranhá-las enquanto experiência sensorial, sendo importante dar reforço positivo ao bebé e confiança para aceitar a novidade. Bem sabemos o quanto um nascimento prematuro traz de desafiante à sua família que deve ser ajudada a ver o seu bebé crescer forte e feliz. Podemos converter todos os desafios em oportunidades, enquanto a adaptação ocorre e a ajuda ao bebé permite a aceitação. Um acompanhamento dos pais neste caso pode ser fundamental para o sucesso da introdução de texturas e de paladares diferenciados.
É também importante reconhecer que existem diferentes tipos de bebés prematuros e que quanto mais cedo nasce o bebé, maior o grau de imaturidade dos seus órgãos e sistemas. Os recém-nascidos que nascem com menos de 28 semanas são muito imaturos e por isso o desafio pode ser maior em relação a todos os pontos descritos e que marcam de forma individualizada a “viagem” da diversificação alimentar destes bebés.
Lisa Afonso, Nutricionista, Injoy Nutrição Infantil e Clínica Girafa às Riscas
Henrique Soares, Pediatra, Diretor do Serviço de Neonatologia do Hospital de São João