Entre os 6 e os 24 meses de idade assiste-se a um rápido crescimento do bebé. Assim, as necessidades de ferro são mais altas nesta fase, proporcionalmente ao peso corporal, do que em qualquer outra fase da vida. Porque o leite materno pode já não fornecer ferro suficiente para o peso corporal, há que garantir que os alimentos complementam as necessidades do lactente, de modo a reduzir o risco de ferropénia. É muitas vezes este risco que justifica a introdução das papas fortificadas com este nutriente.
Mas deixo-lhe 3 factos importantes relativamente a este assunto:
1. Grande parte das papas para bebé não é fortificada com ferro
Alguns profissionais dirão que as papas caseiras são inseguras por não serem enriquecidas com ferro e cria-se assim a falsa sensação de segurança relativamente às papas ‘industriais’. A verdade é que uma grande parte das papas para bebé existentes no mercado português não é fortificada com ferro. Não são apenas as biológicas que não têm esta suplementação. Numa comparação que fizemos, três das papas mais referidas pelos pais não o eram. É muitas vezes este fator que justifica a sua utilização em detrimento das caseiras e, se assim for, há que garantir se opta por uma papa devidamente fortificada.
2. As papas são fortificadas com ferro não-heme, que é de difícil absorção
A capacidade de cada bebé absorver o ferro dos alimentos depende, entre outros fatores, do tipo de ferro: heme ou não-heme. As papas ‘industriais’ contêm ferro não-heme, que é mais dificilmente absorvível quando comparado com o ferro heme presente, por exemplo, na carne e no pescado. A absorção dependerá ainda do tipo de ferro não-heme que é adicionado para fortificar a papa. Por exemplo, um estudo indicou uma absorção significativamente superior do ferro do fumarato ferroso do que do pirofosfato férrico, em bebés com 6 a 12 meses.
3. A capacidade de absorver o ferro dependerá também de cada bebé e de outras componentes alimentares
Uma vez que o ferro, depois de absorvido, não pode ser excretado pelo nosso organismo existe uma regulação muito específica da sua absorção no intestino. Assim, a capacidade de cada bebé absorver o ferro dos alimentos é altamente dependente das suas necessidades individuais. A absorção do ferro não-heme é ainda influenciada por outras componentes alimentares, se ingeridas ao mesmo tempo. Por exemplo:
- O leite materno promove a absorção do ferro não-heme e por isso, quando a amamentar, é preferível optar por uma papa não láctea e prepará-la com leite materno.
- Se na refeição oferecermos laranja ao bebé estamos a fornecer-lhe ácido ascórbico e ácido cítrico, que promovem a absorção do ferro.
As papas podem também ser fortificadas com algumas destas componentes.
Lisa Afonso
Nutricionista Infantil | Investigadora Doutorada na área do Comportamento Alimentar Infantil